JOSÉ LUIZ MAURO
JOSÉ LUIZ MAURO
Sítio Inhambú - Alto tapera, Venda Nova do Imigrante/ES
Já é dia claro e o sol vai saindo de trás das nuvens da ligeira chuva que passou. Já é possível escutar o canto dos pássaros, justamente aqui, no Sítio Inhambú, ave típica da Mata Atlântica que dá nome à propriedade. Ao chegar no sítio, em uma mesa externa encontro Zé Luiz já com xícara à mão e começamos ali mesmo nosso bate papo. José Luiz Mauro, de 63 anos, é casado com Amália Falquetto e juntos tem dois filhos, Cinthya e Henrique, e dois netos. Sua ligação com a agricultura é antiga e remete aos tempos de criança, quando ainda morava em Afonso Cláudio com seus pais Agenor e Dona Cota, que criaram a família através da vida no Campo.
Mesmo tendo iniciado os estudos em curso superior, optou por se dedicar a agricultura, com Sítio em Rancho Dantas, Município de Brejetuba e agora também, com o Sítio Inhambú, propriedade de 2 alqueires localizada na comunidade de Alto Tapera, Venda Nova do Imigrante/ES. O nome do Sítio foi escolhido em homenagem a espécie de um pássaro que aos olhos de Zé Luiz “é diferente, da região e que tem muitos no sítio”. Em sua trajetória com a agricultura, além do café, Zé trabalhou também com o cultivo de repolho, tomate, batatinha, criações, produção de carvão vegetal e relata ainda que, certa vez, devido a incentivo da época, diminuiu a quantidade de café para investir no plantio de eucalipto, mas retornou integralmente à cafeicultura. “Gosto do café! Ele é tradicional da nossa cultura e nossa região é boa para o cultivo. Mesmo que eu tenha tido outras experiências, nunca abandonei uma lavoura de café”.
Com relação à cafeicultura, do tempo de seus pais até hoje, relata que muitas coisas mudaram na roça. Agora temos novos métodos de condução da lavoura, muitas variedades de cultivares e, principalmente, “uma visão mais conservadora e preocupada com o Meio Ambiente”. E é neste ponto que posso destacar um diferencial da propriedade. A produção do Sítio Inhambú é livre de agroquímicos. Uma produção no sistema agroflorestal e agroecológico. Para completar, Zé Luiz reforça: “Hoje eliminamos 100% do uso de agrotóxicos e produtos químicos nocivos à natureza. Agora estamos nos preparando para solicitar a certificação orgânica”. Ah! Ressalta ele: “Também sou simpatizante dos princípios e diretrizes da agricultura biodinâmica, mas ainda sigo estudando este tema”.
A conversa continua e Zé Luiz relata que, com o tempo, houveram muitas mudanças no processo de colheita e pós colheita, principalmente com o auxílio de novas tecnologias e maquinários que são oferecidos e também com a orientação de vários órgãos e parceiros, como por exemplo o Incaper, o Ifes e o projeto Lado a Lado, do Rafa, que manifestam interesse em ajudar. Aí pergunto: Considera importante participar de cursos técnicos? “Estou sempre disposto a aprender e sempre que posso participo de qualificações, a última, em 2019, fiz um curso de 300 horas para Melhoria da Qualidade do Café, ofertado pelo Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes, a qual também somos parceiros como voluntários em pesquisas”.
Perguntado sobre a dificuldade de fazer Cafés Especiais, Zé Luiz logo responde: “O mercado é exigente, o que requer da gente ter muita atenção. A colheita manual, seletiva e na ‘hora certa’ é muito importante e no pós colheita tem que trabalhar bem o tempo e cuidados com a fermentação e umidade”, e complementa: “Cuidamos com o maior carinho da produção e sempre ficamos na torcida dos bons resultados, que com dedicação e empenho são possíveis de alcançar”.
A lavoura é nova e a história do Sítio Inhambú é recente, já que apenas a poucos anos a propriedade foi adquirida após partilha de terra da família. Hoje o sítio é gerido por mão de obra familiar, juntamente com a esposa Amália e seu filho Luiz Henrique que, desde do início, foi incentivador e está trabalhando junto com o pai no sítio, que continua com expansão da lavoura cafeeira e produzindo variedade diversas, como o Caturra Amarelo, Iapar 59, Catuaí 44 e o Catucaí Açú, esta última, uma novidade na região. O clima é de prosperidade e assim que estiver tudo organizado, a propriedade também estará aberta para receber visitações.
Questionei o porquê, com tantas possibilidades, de optar pelo café. Zé Luiz responde rápido e, fato curioso, ressalta: “Vamos lembrar do meu pai. Desde da época do meu avô o café é sempre uma moeda estável e à vista. Ao ser comercializado, alguém te compra, leva e paga na hora. É dinheiro na hora!”, e conclui que “o café pode também ser armazenado, mas o ideal é vender logo para não perder a qualidade”.
Aqui no sítio, muito se produz. O café é carro chefe e, junto com o abacate e o mel, são os produtos principais de comercialização e as verduras, frutas, ovos e galinhas são para consumo próprio da família, mas com alegria completa José: “Mas se sobrar nós vende também!”, rindo. E sobre o mel, vale aqui um destaque. A apicultura que começou como hobbie e distração fez de José Luiz uma boa referência no Município, e hoje o sítio conta com 15 colmeias de abelhas africanas (Apis melífera) e várias espécies de abelhas nativas que são mantidas com o intuito de “preservar o meio ambiente, ao mesmo tempo que aumenta a produção do café devido a melhoras na polinização”, segundo Zé Luiz.
E assim vai se prolongando o bate papo e agora, já na companhia de seu Filho Luiz Henrique, pegamos para dar uma volta de “aranha”, veículo adaptado e preparado para andar entre os carreadores e dentro da propriedade, bom para carregar adubo e trazer a colheita até a unidade de beneficiamento. Entre uma palavra e outra, fomos visitar as abelhas e, agora a fala é minha: “Tomei ali umas 3 ou 4 ferroadas, mas valeu o ouvir do ir e vir das abelhas trabalhando em meio da mata” e entre um registro e outro, deu tempo para uma pescaria.
Mas, por que o Campo? Pergunto. Após uma pequena pausa para reflexão segue a resposta, simples, como José Luiz é: “Hoje, busco levar uma vida bem natural e simples. Uma vida interiorana na Natureza. Não sou acostumado com cidade grande. Sempre fui acostumado a trabalhar e acho que a terra tem que produzir. Tenho o maior prazer em produzir alimento, que é essencial para o Homem e para a Humanidade”.
Agora, já finalizando, pergunto o que ele gostaria de falar para você, amigo, que agora aprecia esse blend das 4 variedades de café arábica produzidas no sítio e fala ele, com o sorriso no rosto: “Querido amigo. Ao adquirir um café, adquira do Sítio Inhambú. Café de alta qualidade e livre de agrotóxicos”. E completa sorrindo com um convite: “Venha tomar um café aqui no Sítio Inhambu!”.
Por Tiago Altoé – Café Compartilhado
Seguem algumas fotos da propriedade e da safra 2021 (em andamento).
-----------------------------------------------
SOBRE ESTE CAFÉ:
Produtor: José Luiz Mauro
Variedades: Blend de Catucaí Açú, Catuaí 44, Caturra Amarelo e Iapar 59.
Safra: 2020 / Nota SCA: 85,5
Características sensoriais: Açucarado e delicado, licoroso, cítrico, mirtilo, uva e frutas amarelas.
Localidade: Sítio Inhambú, Comunidade de Alto Tapera, Venda Nova do Imigrante/ES – Brasil.
Altitude: 1000 metros / Processamento: Cereja descascado