DAVID PAULINO DE AMORIM

DAVID PAULINO DE AMORIM

Sítio Enoque - Santa Maria de Cima. Ibatiba/ES.

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Terça-feira, tarde quente, quente que já anuncia a chuva que vem vindo. Mas isso aqui, em Venda Nova, já lá no Ibatiba, o clima é outro. Clima bom para tomar um cafezinho enquanto desenrola uma boa prosa com o Sr. David Paulino. E, quem diria, né Sr. Paulino? Um bate papo pela internet.

Essa história começa assim, meio à distância. Eu, Tiago, do lado de cá, acompanhado de uma xícara de café que foi produzido pelas mãos do Sr. David Paulino e família. Ele, do lado de lá, acompanhado do filho Enoque, na comunidade de Santa Maria de Cima, em Ibatiba, região do Caparaó no Estado do Espírito Santo. E assim foi, pontualmente às 17h, horário marcado, uma videochamada após mais um dia de trabalho no campo.

David Paulino de Amorim, de 71 anos, é casado com Maria Aparecida Bonato de Amorim. Estão juntos a 44 anos e deste matrimônio tiveram três filhos: Enoque, Eliomar e David. Hoje, o casal juntamente com seus filhos e noras tocam a lavoura e a propriedade rural onde moram. E por falar na propriedade, o Sítio Enoque, assim chamado em homenagem ao pai de David, Enoque Paulino de Amorim (in memoria), é uma propriedade de quase 3 alqueires, situada a 1100m de atitude distante 12 km da sede do município. Na propriedade, a lavoura tem aproximadamente 15 mil pés de café das variedades Catuaí 44, Catucaí 785 vermelho, Catucaí 2 SL amarelo e o Acauã vermelho, esta última, a variedade desta edição do Café Compartilhado.

Fato curioso é que David foi nascido e criado neste sítio, nas terras doadas pelo seu pai. Nasceu pelas mãos de parteira no “taperão”, modo de dizer da antiga casa da família. “Nasci, cresci, casei e continuei aqui. Nunca saí não! É raiz mesmo”, completa David.

Hoje o sítio Enoque se dedica praticamente à cafeicultura. “Na época do meu pai, tinha mais gado aqui no sítio, hoje é praticamente só café. Também plantamos um feijão e milho, mas é só pras despesas nossas”, e sobre as criações, completa David: “Criação? temos umas vaquinhas. Muito pouco. Umas 5, só pra despesa também. Mais é pra tirar um leite para as crianças, pro netos e pra mim também, que já tô ficando mais velho e tem que tomar leite também!”, brinca ele com um sorriso. E para mim ficou perfeito então: café de qualidade para fazer um bom café com leite alí no sítio.

Perguntei como é estar na agricultura a tanto tempo, Sr. Paulino afirma que “hoje é muito mais fácil. A terra era do meu pai. Toda vida! Desde criança mexo com lavoura e, naquele tempo, não tinha adubo e era uma lavoura simples. Hoje temos tudo! Para roçar o terreno temos a maquininha. Para pegar o café também tem maquininha. Temos terreiro de cimento”. E finaliza ele: “Tem opção pra tudo! Só precisa ter o ‘granel’, simbolizando com os dedos o ‘dim dim’, rindo ele.”

Sobre o café especial, foi o primeiro ano da propriedade. Cheguei neste café através de Eliomar, filho do meio do Sr. David Paulino. Eliomar foi um dos incentivadores e junto com seus irmãos Enoque e David, Maria e suas noras, trabalham todos juntos na propriedade. David já tinha ouvido falar dos cafés especiais de Brejetuba, município vizinho, e ficou surpreso com os resultados obtidos. “Fizemos neste primeiro ano, um café assim ‘pelo alto’, e nem sabíamos que iria tão longe. Teve bom pra daná!”, comenta David com um sentimento de felicidade pela produção.

Perguntei como foi feito este café e Sr. Paulino, com toda tranquilidade e sabedoria de quem de verdade coloca a “mão na massa”, relata: “A gente coleta o café de forma seletiva e em parcelas. Pegamos um pouco na sexta, um pouco no sábado, assim. Depois colocamos o café na caixa, pra tirar o ‘bóia’, e em cima da mesa vamos catando os verdes”. Aproveito aqui para registrar um sentimento que percebo ao conversar com David Paulino, que é a felicidade de poder trabalhar em família, ficando essa afirmação ainda mais clara através de suas palavras ao relatar de quando estavam catando os cafés: “Estávamos em uma porção de gente. Os filhos, as noras, os netos e a mulher. Íamos tirando os verdes e os miúdos para um lado e o café maduro para o outro. Aqui todo mundo ajuda. É todo mundo unido!”.

E junto com toda dedicação e trabalho da família, vieram também os bons resultados. Este café foi premiado como o segundo melhor café no Concurso Municipal de Qualidade de Café do Município de Ibatiba, onde residem. Ficaram todos felizes e não esperavam por um resultado tão legal logo no primeiro ano. E pelo relato do filho Enoque, que nos acompanha nessa prosa, a família não vai parar por aí. Nas palavras de Enoque, “O café ficou bom. E para os próximos anos vamos fazer um café ainda melhor. Antigamente nós fazíamos café de um tipo só e pronto. E ia tudo embora de uma vez, agora não. Separamos por lote e estamos preparando os cafés especiais”.

E quem não gosta de um bom “causo”? Eu, particularmente adoro. E não é que no desenrolar da prosa com David, veio um: “Eu nunca vi onça. Mas tem uma história que, certa vez, a onça comeu 5 cabritos meus aqui no sítio. Demos falta dos animais e saímos atrás. Encontramos apenas duas carcaças meio enterradas. Mas onça mesmo, nós não vimos”. E são esses casos e o contato direto com a natureza que fazem da vida no campo uma oportunidade única.

Mas David, em poucas palavras, por que a agricultura? “Pra te dizer a verdade... acho que tem dom pra tudo na vida das pessoas. Pra mim, foi a oportunidade e gosto muito do que faço. Adoro! Hoje mesmo, trabalhamos o dia inteiro capinando o café lá em cima, fazendo as faixas”. David, sinalizando com as mãos, agradece a Deus por Dona Maria, pelo matrimônio e pela família. “Ela é mineira e me achou perdido aqui. Aí nos juntamos e formamos uma boa família. Graças a Deus!”.

Peço para David deixar um recado para vocês, que hoje tem a oportunidade de apreciar este café produzido com tanto carinho, e assim diz ele, brincando: “Façam bom aproveito do café e pode elogiar que a gente sente muito mais feliz. E se acabar o café? Nós mandamos mais. É só procurar o sr. David Paulino de Amorim que a gente manda mais”.

E com tantos anos de vida no campo, sempre é tempo de modernizar e vivenciar algumas novidades. Ter um café premiado em concurso foi uma. Fazer uma prosa online em videochamada foi outra e ter sua história compartilhada em uma embalagem de café especial foi também uma grande novidade, de brilhar os olhos. Ah! E neste momento, fiz um "print", confere aí!

E agora, já quase encerrando nossa conversa, posso dizer que a humildade do Sr. Paulino e família fizeram eu me sentir em casa, mesmo estando a tantos quilômetros de distância, ainda mais com a gentileza com que despediu-se de mim: “Obrigado por tudo e assim que der, aparece aqui pra tomar um cafezinho com a gente”, convite mais que aceito, Sr. David.

E por aqui o sol já se vai e, vejam bem, como prometido, a chuva veio e trouxe com ela um ventinho frio, ideal para eu tirar mais um cafezinho enquanto redijo este texto. Ah! E o café é o dele. Direto do Caparaó, premiado no concurso municipal e indo para nossas casas. Obrigado David Paulino e toda a família! Deram um show e fizeram um cafesão!

Por Tiago Altoé

Café Compartilhado

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SOBRE O CAFÉ:

Descritores sensoriais: Frutas amarelas, açúcar caramelizada e nêspera. Cremoso com final prolongado.

Variedade: Acauã Vermelho

Safra SCA: 2021

Nota: 86

Colheita: Manual seletiva

Processamento: Natural

Altitude: 1100 metros

Produtor: David Paulino de Amorim

Localidade: Sítio Enoque, Comunidade de Santa Maria de Cima, Ibatiba/ES – Brasil.

 

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