DÉRIO BRIOSCHI E FAMÍLIA

DÉRIO BRIOSCHI E FAMÍLIA

Sítio dos Cedros - Alto Tapera. Venda Nova do Imigrante/ES.

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Sempre é tempo para um bom bate papo e assim foi. Acompanhando do meu irmão Isaac subimos a serra de Alto Tapera para uma conversa com uma família, lá no Sítio dos Cedros. Lá chegando, já fomos recepcionados, ali, perto do trator, pelos irmãos Dério e Phelipe que proseavam trabalhando a beira da lavoura de café.

Fomos chegando e já encontramos Derio Brioschi, de 59 anos, e ali mesmo, na varanda da casa, começamos nossa conversa. Perguntei se sua esposa poderia participar e a reposta foi rápida: “Claro! É a que mais trabalha aqui! ”, responde ele sorrindo e já chamando Maria para chegar. Dério e Maria da Penha Brunelli são casados a 29 anos e deste casamento, nasceram Dério Brioschi Júnior, de 25 anos e Phelipe Brunelli Brioschi, de 23.

Dério, o pai, é nascido e criado aqui o Sítio dos Cedros e por falar em sítio, já pergunto a ele o porquê desta denominação. E logo me responde destacando que o nome foi escolhido quando da divisão das terras, na época dos tios: “Temos vários cedros aqui no sítio. Tem um que precisa de três de nós para abraçar ele. ”, abrindo os braços sinalizando o tamanho da árvore e ainda completa “Vai ficar pros netos”, reforçando a ideia de preservação dos mesmos.

O Sítio tem 15 hectares, dos quais aproximadamente 5 hectares são utilizados para a cafeicultura. Aqui encontramos variedades diversas, como o Catucaí 785, o Catucai Açú, Geisha, Arara e o Catuaí 81, variedade mais antiga ainda produzindo no sítio, mas, “na época do meu pai era o Bourbon”, destaca Dério. No sítio, também tem plantio consorciado de abacate para comercialização. Hortaliças, frutas diversas e criações são apenas para o consumo próprio da família. A propriedade também é parceira do Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes em pesquisas e experimentos do Laboratório de Análise e Pesquisa em Café – LAPC.

E agora, falando sobre o café, perguntei do processo de fermentação. Dério, o filho, responde brevemente e com muito conhecimento: “Foi uma fermentação com maceração semi-carbônica, método desenvolvido com os conhecimentos da faculdade e os experimentos próprios de campo aqui no sítio”. E logo de cara já percebemos que estávamos, na verdade, em um Laboratório Particular Rural, assim eu quis chamar, onde os conhecimentos da academia, muito forte nos meninos, e a prática de anos de trabalho e conhecimentos populares dos pais se misturam e se completam. Só neste ano de 2021 a produção do sítio foi dividida, inicialmente, em 150 micro lotes, de acordo com os métodos de processamento e perfis sensoriais de cada amostra, mas “isso é mais no início da safra, já no final vamos agrupando em lotes menores”, completa Phelipe.

Mas nem sempre foi assim, até pelos anos de 2012, só se fazia café comum aqui no sítio, mas de lá pra cá muita coisa mudou na gestão da lavoura de café. “Nossa área é restrita e sem muito espaço. Aí, lá em 2012, 2013, os meninos (apontando para os filhos) deram ideia de descascar o café para melhorar a renda. E deu certo! Descascamos e tivemos um aumento de 30 a 40% no valor”, relata Dério. E fato curioso, é narrado por Juninho, assim chamam o Dério Júnior aqui na família. “Quando eu e Phelipe decidimos ficar na lavoura fomos atrás de comprar um despolpador e, por muita coincidência, acabamos comprando a máquina que o papai descascou o café a primeira vez, lá em 2012. Estava em Santa Luzia. ”, comunidade do Município vizinho.

Maria, trabalhava como costureira na sede de Venda Nova, mas depois do casamento e, por gostar de sítio e pela praticidade, decidiu ficar e se dedicar exclusivamente à propriedade. “Sou costureira, mas minha família tem origem e sempre trabalhou na lavoura. Meu pai adorava o pé de café”, relembra Maria da Penha. Dério também relembra memórias aqui no sítio. “Desde novinho trabalhei com meu pai. Vinha de mão dada com minha mãe para a lavoura. Eu nasci naquela casa ali! ”, apontando na direção de uma antiga construção.

A sintonia entre o casal é muito bonita, curtem o sítio e a família. E diz Maria: “Para chegar na qualidade, Dério e eu trabalhamos muito...”, e completando, diz Dério: “...e os meninos são nossos incentivadores! ”.

No início, Dério júnior, pensava em cursar Engenharia Mecânica, mas optou por fazer o curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos no Instituto federal do Espírito Santo – Ifes. E lembrando um pouco de sua própria história, relata: “No Ifes, com o convite do professor Lucas, comecei a conhecer e estudar mais sobre o café. Foi aí que inscrevi, em meu nome, uma amostra de café aqui do sítio no Concurso Municipal de Qualidade de Café de 2014. Ganhamos e aí eu empolguei! Descobri que poderíamos fazer café bom aqui no sítio. ”. E finaliza ele lembrando de fato ocorrido naquele ano ao ser procurado por um comprador. “...na venda, pedi R$450 a saca e ele ofereceu quase 3 vezes mais. Aí tive a certeza que era um mercado bacana. Fiz iniciação científica, terminei meus estudos no Instituto e me formei Q-Grade, em 2015. ”.

Phelipe, o caçula da família, segue no mesmo caminho. “Depois que terminei o ensino médio, resolvi fazer curso superior em Ciência e Tecnologia de Alimentos, também no instituto. Hoje estou no 4° período e estou me preparando para buscar a certificação de Q-Grader também. ” E no histórico de conquista, também relembra Phelipe: “Em concurso nacional de qualidade de cafés tardios, uma amostra que estava em meu nome foi a campeã. Tivemos nota 92 naquele café! Aí intensificamos o trabalho e dedicação, porque vimos que a propriedade tinha potencial. ”.

Ainda nesse contexto, relembra Dério: “Antigamente, era tudo doido! Nós derriçávamos o café tudo de uma vez. O café era plantado bem mais espaçado”. E hoje, com todas essas mudanças no sítio, desde a escolha da variedade, o adensamento de plantio e aperfeiçoamentos no pós-colheita os resultados veem chegando.

A sintonia entre os quatro é grande. Todos participam da gestão da propriedade, embora haja uma certa divisão de tarefas. Maria da Penha é a responsável, no pós-colheita, pela secagem, realizada em terreio suspenso coberto. Dério se dedica à logística, organização da propriedade, colheita e mão de obra de colaboradores. Phelipe fica mais no cuidado da lavoura e no processamento pós colheita, enquanto Dério Júnior faz a preparação dos lotes, análises sensoriais e comercialização.

Além de produtores de cafés, os dois irmãos também se destacam no empreendedorismo. Juntos com outros 2 amigos de faculdade, decidiram em 2019 criar uma empresa de compra e venda de cafés especiais, com foco à exportação. Hoje, o sonho é uma realidade e os quatro jovens dirigem a Farmers Coffee que, além de exportadora de café, também presta serviços de maquinação e armazém. Nessa história, Phelipe faz a seguinte recordação: “No início não tínhamos nada, começamos a provar os cafés aqui em casa mesmo. Improvisávamos aqui na área de serviço e era um frio danado! ” e completa Dério júnior: “Ficávamos trabalhando até de madrugada”.

E, neste contexto, diz o pai: “Quando eles (filhos) decidiram ficar aqui, dei Graças a Deus (levantando as mãos pro céu). Eles iam ficar pertinho de nós! ”, e para Maria da Penha: “Tem muita mão de Deus em nossa história. Nós, eu e Dério, combinamos bem. Em casa, na família e no trabalho! ”.

Vou registrar aqui uma mensagem final deixada pelos meninos, assim identificados. Dério Júnior sabe que muito já se avançou, mas reconhece que ainda tem uma longa estrada a percorrer “Estamos nos preparando para termos no futuro cafés cada vez melhores”, ressalta. E para Phelipe, a “valorização do conceito de agricultura familiar é importante e deve ser feita com carinho. Aqui plantamos café e cuidamos também da natureza.! ”

Bem, e agora finalizando, e sob meu olhar, posso dizer que pode até ser difícil mudar costumes e práticas, mas é fundamental. E com estudos, tentativas e dedicação vem o aprendizado e também os bons resultados. O trabalho familiar aqui realizado junto com a vontade de avançar cada vez mais, torna a família uma referência na produção de cafés especiais. E, este ano (2021), foi do Sítio dos Cedros que saiu o melhor café de Venda Nova do Imigrante no concurso municipal de qualidade. Mérito de toda a família! Um presente a todos os amantes dessa maravilhosa bebida. Parabéns!

 

Por Tiago Altoé – Café Compartilhado

Seguem algumas fotos da família e da propriedade.

 

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SOBRE O CAFÉ:

Descritores sensoriais: Frutado, doçura de caramelo e suave. Lembra morango.

Variedade: Catuaí 785

Safra SCA: 2021

Nota: 86

Colheita: Manual seletiva

Processamento: Natural fermentado

Altitude: 950 metros

Produtor: Dério Brioschi e família

Localidade: Sítio dos Cedros, Comunidade de Alto Tapera. Venda Nova do Imigrante/ES – Brasil.

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