ALFREDO SEGUNDO SOSSAI
ALFREDO SEGUNDO SOSSAI
Sítio Santa Tereza - Tapera, Venda Nova do Imigrante/ES
“Vamos entrar para tomar um café?”. E assim fui recebido ao chegar no Sítio Santa Tereza e ao entrar na residência encontro ali, ao redor da mesa central, um pequeno encontro entre família regado à café e bate papo. Senti-me em casa e logo chega Sr. Alfredo e senta-se à mesa conosco. E, neste agradável ambiente, começamos a conversar.
Alfredo Segundo Sossai, de 77 anos, é casado com Alva Minete Sossai e juntos tem 3 filhos, José Angelo, Juliana e Andressa, e 7 netos. Fato curioso é que Sr. Alfredo nasceu na propriedade, na casa antiga da família. O terreno que pertencia a seu bisavó Pietro Noé Sossai, foi dividido a cada geração, passando por seu avô, pai e chegando a ele, que hoje mora e trabalha com a família na propriedade de um pouco mais de sete hectares, denominado Sítio Santa Tereza, nome dado como homenagem a sua mãe Tereza. Desde de criança conheço o Sr. Alfredo, mas ter este bate papo me confirma a impressão que sempre tive. Pessoa muito inteligente, de memória ímpar e sempre disposta a aprender e inovar.
Com 16 anos de idade, após um período estudando nos Seminários de Boa Esperança – Jaciguá e também em Pará de Minas, Alfredo Sossai retorna definitivamente para o sítio para morar com seus pais Angelo Sossai e Tereza Coco Sossai e seus 11 irmãos. Um fato que também é recordado por Alfredo é de ter se apresentado no Exército. “Me apresentei no quartel em Castelo e quase fui. Seria outra história”. E, de lá pra cá, foi um vida para a agricultura: “Eu quase plantei de tudo! Café, cenoura, alho, milho, feijão, repolho e também tínhamos criações, como gado, porco e galinhas”. No café, ele relata que antigamente o plantio do café que era de “morro a cima”, mas que passou a ser feito em curvas de nível, sendo o Município de Venda Nova do Imigrante um dos pioneiros no Estado a utilizar essa técnica. E completa: “Antes era tudo capinado, na enxada e na foice. Agora usamos a roçadeira”.
Com carinho lembra da infância no sítio. “Quando era criança, lembro de ir pra escola e de sempre ajudar na propriedade. Eu capinava o quintal, rancava inhame e alimentava os porcos. Sempre tínhamos uma tarefa. E também íamos para a lavoura catar o café que sobrava. Mas quase não sobrava! ”
Se comenta muito hoje em dia sobre o despolpamento do café, aqui, desde 1961 a técnica já era utilizada. “Tínhamos um despolpador tocado à mão, porque não tínhamos energia na propriedade. Só mais tarde compramos um motor a gasolina” e complementa enfatizando a dificuldade da época: “Puxava tudo nas costas, meu amigo! Ou com carrinho de mão e auxílio dos irmãos. Assim o café vinha até o despolpador”.
Naquele tempo, década de 60, não tinha terreiro de cimento no sítio e foi aí que “eles ensinaram a betumar a terra”. Curioso que sou, perguntei ao Sr. Alfredo: O que seria esse “betumar a terra”? A resposta foi rápida e com propriedade: “Utilizávamos estrume de gado, e tinha que estar mole e fresco. Lembro que ficava em umas gamelas velhas de madeira, e com o auxílio de uma vassoura íamos passando na terra do terreiro, camada por camada enquanto o sol ia secando. Depois de um tempo, estava pronto”.
Alfredo conta um pouco do trabalho de levar o café da lavoura até os despolpadores, localizados perto da casa e do terreiro. Após descascar os frutos, os grãos seguem para secagem, que ocorre tanto no terreiro coberto como no aberto, e explica Sr. Alfredo: “Não se seca o café só com calor. O vento que seca o café e por isso também tem que ir para o terreiro externo”. E, num clima de brincadeira, sou indagado por José Angelo, filho de Alfredo: “E sabe como o papai mede a umidade?”. No canto do dente! Responde e ele e completa: “Isso é experiência! Um café ‘ao dente’”, brinca ele.
Se for falar de histórias, Sr. Alfredo tem muitas. Pessoa de muito boa memória, lembra de dias de trabalho, de companheiros, de programas de governos e muitos casos, como o de 1975 quando “fiz um lavador de café. Aí eu já separava o café verde do maduro e também retirava a terra”.
No sítio também se produz pitáia, lichia e palmito pupunha que são comercializados. As compotas de figo e pera são apenas para consumo próprio. Durante um bom tempo produziu cachaça envelhecida, que ainda é comercializada. No Sítio Santa Tereza tem também a Monticiello, uma agroindústria de queijos gerida pelo genro Luciano, onde são produzidos 11 tipos diferentes, como o frescal e o minas padrão, por exemplo. O sítio recebe visitações e na lojinha local é possível encontrar os queijos, cachaça e o café.
Sr. Alfredo é muito participativo na comunidade e, sempre que possível, participa também de seminários, cursos e eventos. Muito dedicado e sempre em busca de conhecimento fez recentemente um curso de torrefação pelo instituto Federal do Espírito Santo – Ifes.
No sítio, sempre encontramos um experimento, desde um desidratador vegetal por placas fotovoltaica e aquecedor hidráulico solar como também um plantio de Café Conilon, nada comum no Município. Outro caso interessante é que, desde 1981, Sr. Alfredo faz a medição pluviométrica na propriedade e as chuvas vem sendo registradas ao longo desses últimos 40 anos. E contando nos dedos, de novembro a abril, ele relata: “Em 6 meses choveu 1300 mm. As vezes a gente não entende bem a natureza. Mas ela tem a lei dela e nós temos que obedecer”, afirma ele.
Fiquei curioso sobre a variedade Catiguá MG2, presente nesta edição. Afinal, foi a primeira vez que ouvi falar dela por aqui e ele contou. “Eu vi no Globo Rural um agrônomo falando sobre o Catiguá MG2. Achei interessante e eu escrevi e telefonei. Consegui 1kg de sementes que veio de Minas Gerais. Hoje considero um café bom e de peneira mais homogênea”.
Desde adolescente já se interessava por estudar e aprender e daí sua frase: “Eu nasci com 16 anos”. Foi justamente a época que começou a se dedicar mais na leitura e nos estudos e também a ter contato com outros idiomas como o francês, inglês e latim. Aí, sem perder tempo, pedi uma oração em latim, e imagina? Fui abençoado pela oração do “Pater Noster”.
E ainda na sala com os familiares e ao som das crianças correndo e brincando ao redor da mesa, Alfredo nos faz pensar: “Tem que ter amor para trabalhar na roça. O que a gente faz é com muito amor e capricho. Só assim chega até você um café de qualidade”. E finaliza: “O que não serve para mim não serve para os outros. Então vou sempre presar pela qualidade”.
E agora, finalizando já com o sol baixinho, posso concluir que o futuro é mesmo algo que se constrói hoje. E eis que o destino não deixou Sr. Alfredo virar padre e nem soldado. Mas permitiu a ele construir uma bela família. Formou-se agricultor, nobre profissão, e também um cientista da vida. Um orgulho para toda a família!
Por Tiago Altoé – Café Compartilhado
Seguem algumas fotos da propriedade e da safra 2021 (em andamento).
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SOBRE ESTE CAFÉ:
Produtor: Alfredo Segundo Sossai
Variedade: Catiguá MG2
Safra: 2020 / Nota SCA: 86,75
Características sensoriais: Frutas escuras, bluebarry, suco de uva, mirtilo, floral, licoroso, macio, baunilha e cacau
Localidade: Sítio Santa Tereza, Comunidade da Tapera, Venda Nova do Imigrante/ES – Brasil
Altitude: 800 metros / Processamento: Cereja descascado