GIOVANI FIORESE
GIOVANI FIORESE
Sítio Bela Vista - Cutia, Venda Nova do Imigrante/ES
É sábado, dia de calor depois de dias de chuva. Dia ideal para um bom bate papo com o jovem agricultor Giovani Fiorese, de 35 anos, alí, no mesão de madeira aos fundos da casa.
Essa é uma história que acontece no Sítio Bela Vista, Comunidade da Cutia, Venda Nova do Imigrante/ES, onde Giovani mora com a esposa Priscila Mascarelo, com quem teve seu primogênito Enzo. E é nessa região de Cutia e São Roque que ocorre a tradicional Festa do Café, no Município de Venda Nova do Imigrante/ES.
Desde seu nascimento, Giovani foi criado na propriedade onde hoje continua residindo e é o responsável. Um caso claro de sucessão familiar na agricultura, já que nessas terras, a condução da lavoura veio de geração e geração, desde a época de seus avós e de seus pais. “Nasci e cresci no meio da lavoura. Saí para estudar e também para trabalhar um período no comércio, lá na sede, mas minha vida é aqui: Na agricultura. E por isso optei em permanecer e tocar o caminho do meu avô e do meu pai” diz Giovani, que é filho de José João Fiorese e Cleria Peisino. O sítio de aproximadamente 25 hectares possui cerca de 30 mil pés de café, o forte da propriedade e principal atividade comercial. Aqui também são produzidas frutas diversas, verduras, pupunha e uma pequena criação de peixes, mas praticamente tudo para o consumo da família.
Ainda com seu vinte e poucos anos, Giovani já havia assumido a gestão do sítio e perguntei do porquê de seguir na agricultura e, sem pausa para uma reflexão, já veio a resposta: “Cresci nesse ambiente do interior, optei por permanecer e é aqui que quero ficar. Gosto de trabalhar pra mim e pra minha família. Gosto também de ter a minha liberdade e de fazer os meus horários. Faço com amor meu trabalho”. Segundo ele é muito bom estar morando no interior, mas às vezes os dias são sofridos, e brinca: “Mas antigamente era ainda pior. Entrar na lavoura com picão de um metro e meio ou dois de altura, uma enxada na mão e um calorão batendo nas costas pra limpar o café que era plantando muito mais espaçado, era ainda mais difícil”.
Saindo para uma caminhada no quintal, pegamos um bocado de ração para dar aos peixes enquanto a prosa continuava. Foi aí que percebi a lavoura sendo renovada e que em novas áreas estão sendo plantadas café e Giovani logo justifica: “Estamos tirando o eucalipto, que ‘já teve bom’, mas pra gente que não tem muita terra não vale a pena ficar esperando. A gente precisa de renda todo o ano”, isso fazendo menção aos anos de espera para retirada da madeira em relação à colheita do café, que é anual. E concluí ele: “Muita coisa vai mudando ao longo dos tempos. O sistema de colheita antigamente era só ‘derriçando’. Jogava tudo (cafés) no chão e depois vinham vareando, banavam e lavavam para ir para o terreiro, que era de chão. Hoje temos colheita seletiva, despolpador e terreiro de cimento coberto”.
Convergimos quando o assunto é qualificação e que cursos e treinamentos são sempre muito importantes e, neste caso, dos cafés especiais ainda mais, ressalta Giovani: “Quem quer mexer com café de qualidade tem que estar preparado e estar sempre se qualificando”, relatando que participou do evento sobre a Broca do Café, realizado pela Acemes e que, sempre que possível, estará participando de treinamentos.
Retornei ao assunto do ficar na propriedade e disse-me ele que voltou para o sítio para descansar, despois de um período de experiência no comércio, e foi quando percebeu como era bom estar alí, perto dos pais e do sítio onde passou toda a vida. “Hoje busco isso, uma qualidade de vida boa. Mas também tem que pegar no batente. Saber fazer as coisas no seu devido tempo. Tem dia que chego em casa ‘molhado no suor’ e tem dia que tem que ir pra cidade comprar insumos, buscar assistência e assim vai”. Como Giovani cresceu nesse ambiente, cuidar hoje da lavoura é, além de gratificante, uma atividade boa. Ele não precisou “aprender na marra”, como aqui falamos, afinal, foi criado na lavoura e adquiriu conhecimento desde de sua infância, além da propriedade, que já estava toda preparada para a cafeicultura.
As perspectivas da família são boas e é certa a permanência na agricultura buscando cada vez mais produtividade e qualidade de café, sempre agregando valor. Hoje mora no quintal do antigo casarão da família, de 1952, onde ainda residem seus pais. O casarão foi construído pelo Nonno Giuseppe Primo Fiorese e a Nonna Luiza Vinco, e se destaca no meio do terreirão com sua bela e preservada arquitetura. Também chama atenção na propriedade uma pequena Igreja, a Capela de Dom Bosco, datada de 07/09/1941 e, fato curioso, Giovani explica: “A história da Igreja foi promessa do meu avô Gilseppe. Como ele teve a graça de uma cura foi fazer um oratório e acabou fazendo uma capelinha. Tempos depois essa capelinha, que ficava longe da sede, foi transferida para o local onde se encontra atualmente. A denominação Dom Bosco foi escolha dele (avô) em homenagem a sua história com os salesianos”.
E sobre memórias? São muitas! A lembrança de “desde novinho já estar em cima de um trator, de carro puxando mercadorias pra cima e pra baixo” são boas recordações”. E gostei de outra que ouvi de Giovani: “Lembro de criança de que, quando acabava a colheita, era um costume soltar fogos em comemoração e alegria. Era um sentimento de graça pelo trabalho bem-sucedido e concluído com sucesso. As vezes ouvíamos os ‘estouros’ de longe também, vindos de outras propriedades”.
E para ver a propriedade, pegamos uma Toyota Bandeirantes branca, ano 92, um veículo tradicional na região e muito usado para trabalhos no campo, onde a produção e insumos são transportados na propriedade e com ela saímos para uma volta em meio aos carreadores de café. O sítio, muito bonito e bem cuidado, fica ainda mais interessante de cima. No início da conversa, perguntei o porquê do nome “Bela Vista”, e o relato foi de “ter sido uma escolha do meu pai, quando dividiram as terras”, daqui, já no alto, não precisamos de justificativas melhores para um nome do que contemplar o visual. E por aqui mesmo, fomos encerrando nosso bate papo. Debaixo do sol que ilumina o lindo vale da Cutia, apreciamos ao fundo a Pedra do Forno Grande e abaixo das mãos de café o sítio Bela Vista.
Compartilhar com vocês esse momento é muito gratificante. Um jovem dando continuidade a história e costumes familiares e também produzindo café especial. E, agora, nas palavras de Giovani: “Saibam que estão consumindo um produto que é fruto de muito trabalho e dedicação. Um café colhido seletivamente e beneficiado com carinho para chegar até vocês. Aprecie nosso café!”.
Por Tiago Altoé – Café Compartilhado
Seguem algumas fotos da propriedade e da safra 2021 (em andamento).
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SOBRE ESTE CAFÉ:
Produtor: José Giovani Peisino Fiorese
Variedade: Catuaí 81 vermelho
Safra: 2021 / Nota SCA: 83,5
Características sensoriais: Chocolate, nozes e caramelo. Encorpado.
Localidade: Sítio Bela Vista, Cutia, Venda Nova do Imigrante/ES – Brasil.
Altitude: 680 metros / Processamento: Cereja descascado